quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Disputa do espetáculo: Celebridades x Paparazzi



Nana Gouveia - quadra do Salgueiro ( Nov/2008)

Celebridades são divindades fabricadas e administradas, ícones midiáticos, deuses da vida cotidiana. Hoje o que garante a visibilidade das celebridades é a produção de suas identidades através da circulação das imagens, que acabam virando mercadoria. Essa visibilidade depende do aparecimento da imagem corporal em um veículo de comunicação, que acaba sendo muitas vezes transformada um espetáculo pela mídia, causando formas de sensacionalismo. Transformar pessoas anônimas em celebridades ou supervalorizar as que já têm fama, é um dos caprichos do espetáculo, que passa o reconhecimento à sociedade dessas pessoas como estrela. Para as celebridades que encaram de frente essa invasão de privacidade, acabam por fim tornando-se vítimas dos espetáculos com reversos que ocorrerem nessa busca incansável do privado, causando assim constrangimento e impacto na vida social, como por exemplo a morte da princesa Diana, em agosto de 1997.

Acidente - princesa Diana

A fotografia respalda um acontecimento, ou seja, a imagem serve para que as pessoas acreditem que é algo verdade, visto que a foto dá vida ao fato agregando valor à realidade, fazendo com que esta se torne visível. Os paparazzis, que têm a fascinação por registrar através de vários cliques as celebridades, fotografam muitas vezes a mesma coisa até conseguir dizer aquilo que se quer, acompanhando a rotina das celebridades a fim de despertar atenção da maior quantidade de pessoas possíveis. o trabalho desses profissionais é ir atrás do momento certo, ou seja, do inesperado, registrando assim formas de testemunhar o privado da vida das celebridades.
O objetivo dos paparazzis ao resultar a divulgação dessas imagens é mostrar que a câmera incrimina, ou seja, que ele selecionou “momentos” dentre outros possíveis, por exemplo, de uma atriz que estava dançando, mas que sem querer deixou aparecer sua calcinha. Essa pressão pela visibilidade que gera fotografias sensacionalistas, vem de uma intenção desses profissionais que possibilitam ver coisas que poderiam passar despercebidas.



Dado Dolabella e Luana Piovani flagrados na praia da Barra

Imagem – produto do espetáculo




O espetáculo é definido pelo autor Douglas Kellner, no livro Sociedade Midiatizada, como “formas de produções construídas tecnologicamente que são produzidas e disseminadas através da mídia de massa ( rádio, TV, internet, wireless)”. O século XX, que é caracterizado por formas de espetacularização, faz com que indústrias culturais possibilitem a multiplicação dos espetáculos na mídia e em sites. Com a multiplicação de experiências devido às tecnologias, cidades incham, populações crescem , e com o desenvolvimento de tecnologias de informação, as formas de espetáculo acabam moldando a sociedade e a cultura.
A televisão, que se tornou o centro da vida doméstica dos brasileiros, mudou a relação entre público e privado devido aos seus telespectadores considerá-la um meio onde tudo pode ser visto. Nossa sociedade durante muito tempo foi ensinada que algumas coisas são se faziam nem se diziam em público, e sim deveriam ser feitas com privacidade. A partir daí, o que ocorre é uma inversão de valores que são estabelecidas pela própria sociedade pós-moderna.
O espetáculo ocupa várias esferas de nosso cotidiano como política, economia e em nós mesmo. Uma das formas de domínio, por exemplo, é através da mídia que muitas vezes oferece fantasia e sonho, modelando pensamento, comportamento, e ação dos indivíduos, tornando-se palco de visibilidade para conquistar audiência, aumentando assim o poder e o lucro da indústria cultural.
Dentro do espetáculo tudo é mercadoria, na visão do filósofo Guy Debord. A imagem tem valor de mercadoria e é criado o novo, o extraordinário e o desconhecido que depois se torna o esquecido. Ele afirma com seu conceito marxista e radical embora nem todos são dominados por este espetáculo: “O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido.”
Muitas vezes o espetáculo não agrega informações relevantes, mas torna o conhecido em algo impactante que chega a causar choque através da forma que é colocado pela mídia em mostrar a realidade, da melhor forma para se vender.
Para Debord, o espetáculo também vai muito além da presença dos meios de comunicação de massa no cotidiano das pessoas. Segundo o autor, o espetáculo é a própria sociedade e, por assim ser, torna-se o principal instrumento de unificação social, ou seja, por meio da imagem se cria a realidade e essa realidade construída realiza a unidade da vida. Isso fica evidenciado na seguinte afirmação: “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens.”